terça-feira, 16 de agosto de 2011

Longo caminho a percorrer

publicado no Jornal O POVO no dia 09 de Agosto 2011

http://www.opovo.com.br/app/opovo/fortaleza/2011/08/09/noticiafortalezajornal,2277341/longo-caminho-a-percorrer.shtml

A escola é um mundo cheio de possibilidades para Marina Timbó, 12. Lá ela fez amigos, aprendeu a ler, escrever e gostar de matemática. Em casa, faz os deveres com capricho e nas horas vagas costuma navegar na Internet, onde bate papo com os amigos. Vive experiências e aprendizados semelhantes às de outras crianças na sua idade, mas é diferente, tem síndrome de Down.

O desafio da alfabetização, a menina já superou. A luta é para continuar avançando nos estudos de acordo com os seus limites. “Muitas vezes, a escola finge que ensina e os pais fingem que seus filhos estão aprendendo”, comenta a mãe, Eurenilce Timbó.

Desde 1989, a lei diz que toda criança com deficiência tem direito à escola regular. Por falta de formação profissional ou interesse, a escola não pode tornar o aprendizado um obstáculo ainda maior para crianças com deficiência. Na prática, algumas escolas particulares teimam em não aprender essa matéria.

Falta planejamento pedagógico para tratar as singularidades que todo aluno emana. Os pais de Marina sabem a dificuldade de incluir a filha em uma escola regular. Foi quando a menina saiu da educação infantil e partiu rumo ao ensino fundamental que os limites da inclusão educacional foram postos à prova. “Muitas escolas alegaram que não estavam prontas para recebê-la”.

A grande dificuldade dos educadores é aceitar os limites, explorar as potencialidades e garantir que o aprendizado da criança com alguma deficiência seja um processo contínuo. Para a psicopedagoga Cris Couto, as instituições de ensino não estão preparadas para a inclusão. “Algumas escolas estão começando a entender a necessidade e tentando se adaptar, mas ainda falta programa de inclusão específico para cada série”.

A pós-alfabetização costuma ser o período mais crítico para a permanência dos alunos com deficiência. “No ensino infantil, as escolas conseguem seguir com a proposta educacional baseada na socialização. Só que quando chega ao ensino fundamental e médio, surgem novas complexidades. A didática pedagógica não dá conta”.

Além disso, a estrutura física não contribui, a formação dos professores se mostra insuficiente, o excesso de alunos em sala atrapalha e o preconceito aumenta por parte de alguns pais que acreditam que o rendimento dos demais alunos será prejudicado.

Quando a dona de casa Neide Aparecida Dias Nogueira, 47, se mudou para Fortaleza com a família, acabou tendo que fazer uma verdadeira peregrinação para matricular Isabel, 12, na escola regular. Mesmo cursando a quarta série, o processo de alfabetização ainda não foi concluído. “Ela lê sílabas, mas não está totalmente alfabetizada”, pondera a mãe.

O receio é com o futuro educacional. “Tem pessoas com deficiência que chegaram à faculdade, mas não sei como vai ser com minha filha. Não sou eu quem determino. Tudo deve ser de acordo com o limite dela. A Isabel vai se destacando nas situações que aparecem”.

ENTENDA A NOTÍCIA

Crianças com deficiência, física ou cognitiva, ainda sofrem para ter acesso à educação de qualidade. Depois de alfabetizadas, fica mais difícil encontrar escolas privadas dispostas a oferecer plano pedagógico adequado.

SAIBA MAIS

Bastidores

O tema sobre inclusão educacional não é fácil de ser debatido entre as escolas particulares. O POVO tentou conversar com outras grandes escolas da Capital, mas não obteve retorno. Uma delas, chegou a admitir que não gostaria de ter o nome da escola atrelado ao tema.

Lei 7853/89 estabelece normas gerais que asseguram o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiências, e sua efetiva integração social. Em seu artigo segundo, trata sobre a inclusão no sistema educacional, da educação especial; a inserção das escolas especiais na rede pública e privada; além da oferta gratuita e obrigatória da educação especial na rede pública.

Desafio pedagógico

Professores aprendem inclusão educacional na prática. Assunto é pouco abordado na graduação.


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